Bebês que são amamentados com leite materno têm
uma série de benefícios conhecidos a curto e médio prazo, a maior parte
associada a um menor número de doenças infecciosas na infância e
maiores escores de inteligência na adolescência.
Repercussões de longo prazo ainda não eram
conhecidas, pois as pesquisas que avaliaram os efeitos da amamentação
com leite materno acompanharam os bebês no máximo até a adolescência.
Agora, esta lacuna no conhecimento é preenchida por um estudo brasileiro produzido na Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul. A pesquisa foi publicada no dia 17 de março na revista científica The Lancet Global Health.
O estudo teve início em 1982 com a coleta de informações sobre a
amamentação de cerca de 6000 bebês nascidos naquele ano na comunidade de
Pelotas/RS. Desta amostra, perto de 3500 foram submetidos a um teste de
QI (quociente de inteligência) 30 anos depois. Além disso, vários dados
foram registrados, como grau de educação e rendimentos.
A amamentação no seio ao nascer foi associada
com maior inteligência, mais tempo de educação formal e maior rendimento
quando adulto. E, quanto maior o tempo de amamentação, maiores são os
efeitos positivos. Vários outros fatores que poderiam estar associados
aos desfechos analisados (como o grau de educação dos pais, se a mãe
fumava durante a gravidez, fatores genéticos, idade da mãe, tipo de
parto, etc.) foram excluídos por meio de metodologias estatísticas de
ajuste para fatores de confusão.
As possíveis explicações para estes achados
estão associadas a fatores nutricionais, principalmente a presença no
leite materno de ácidos graxos saturados de cadeias longas, componente
muito importante para o desenvolvimento do cérebro.
Apesar do tipo de estudo não permitir que seja
estabelecida uma relação de causa e efeito (o estudo não pode provar que
os efeitos no adulto foram consequências diretas da amamentação), a
forte associação permite inferir que esta relação causal existe.
Deve ser considerado também que o
desenvolvimento de um indivíduo até a idade adulta envolve uma grande
quantidade de variáveis. Certamente a amamentação é uma delas, talvez a
mais importante. Por outro lado, o fato de uma mãe não ter amamentado
seu filho, ou ter amamentado por pouco tempo, não significa que ele não
terá sucesso na vida adulta.
Este estudo confirma que estimular a
amamentação com leite materno pelo maior tempo possível é uma ação de
grande impacto positivo na saúde pública.
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